O congelamento de óvulos está em pauta. Se você tem 36 anos, está em uma idade em que muitas das suas amigas já tiveram filhos e as que ainda não tiveram, estão avaliando o tema. Se planejam ter filhos em algum momento no futuro, deveriam congelar seus óvulos agora?
“Esta é uma decisão pessoal e nem sempre fácil. Embora o congelamento de óvulos seja frequentemente vendido como uma ‘apólice de seguro de fertilidade’, ainda não temos certeza do sucesso do procedimento para todas as pessoas ou como as taxas de sucesso variam de acordo com a idade”, afirma a especialista em Reprodução Humana, Ana Elisabete Dutra, diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Vamos falar, a partir de agora, sobre o que já sabemos sobre o tratamento. Confira!
Sabemos que o tratamento é caro e que não é isento de riscos. Cerca de 16% das mulheres que congelam seus óvulos acabam se arrependendo da decisão. Portanto, a notícia de que pesquisadores australianos estão trabalhando no desenvolvimento de uma ferramenta para ajudar as mulheres a tomarem a decisão certa para elas, quando o assunto é congelamento de óvulos, é animadora.
As pessoas optam por congelar seus óvulos por vários motivos. Mas as mulheres que fazem o tratamento por motivos sociais tendem a se enquadrar em um dos dois grupos, a seguir, aponta a University College London:
- O primeiro grupo é formado por mulheres na faixa dos 20 ou 30 anos. Essas mulheres sabem que querem ter filhos algum dia – talvez daqui a cinco anos – mas ainda não estão prontas. Elas podem estar estudando, se preparando para novos desafios profissionais ou viajando. Estão congelando óvulos como uma medida proativa;
- O segundo grupo inclui mulheres na faixa dos 30 ou 40 anos, que querem ter filhos, mas não estão em posição de fazê-lo, geralmente porque não estão em um relacionamento com alguém que se sente pronto. Muitas dessas mulheres dizem que esperavam ser mães agora, no momento do congelamento. Elas sabem que sua janela de fertilidade está se fechando e querem ter a melhor chance de engravidar em um futuro próximo.
Quando se trata de tomar uma decisão sobre o congelamento de óvulos, é vital que as pessoas estejam totalmente informadas sobre quatro questões: as taxas de sucesso, os riscos, os efeitos colaterais e os custos. Encontrar essas informações nem sempre é simples, até porque não sabemos totalmente quais são as taxas de sucesso.
Enquanto muitas mulheres tiveram seus óvulos congelados, apenas uma fração voltou a usá-los. Isso ocorre em parte porque a tecnologia ainda é relativamente nova – o congelamento de óvulos só perdeu seu rótulo “experimental” há cerca de 10 anos. As pessoas que congelaram seus óvulos cinco anos atrás podem ainda não estar prontas para a gravidez ou podem ter concebido sem o emprego dos mesmos.
Os dados que temos sugerem que cerca de 21% das mulheres que congelam seus óvulos acabam usando esses óvulos para se tornarem mães. Esse número inclui mulheres que têm seus óvulos congelados por razões médicas – talvez como precaução antes de passar por uma quimioterapia que pode danificar os óvulos saudáveis, por exemplo. Quando você olha para as mulheres que optam por ter seus óvulos congelados por motivos sociais e não médicos, o número diminui para 17%.
O óvulo congelado tem, em média, 5,9% de chance de se tornar um bebê, de acordo com um estudo. Então, por que algumas mulheres – incluindo 6% das voluntárias desse estudo – acham que a chance de ter um bebê depois de congelar os óvulos é de até 100%?
Parte do problema é a desinformação. O congelamento de óvulos é um grande negócio. Em um estudo publicado recentemente, os pesquisadores descobriram que os sites de clínicas de reprodução tendem a ser persuasivos, em vez de informativos, em sua linguagem. As clínicas de fertilidade tendem a enfatizar os benefícios do congelamento de óvulos, minimizando os riscos e os custos. Essas descobertas batem com estudos semelhantes realizados nos EUA e na Austrália.
Ferramenta on-line pode ajudar as mulheres
Diante do que sabemos, é interessante acompanhar o trabalho da Universidade de Melbourne, Austrália, que está trabalhando em uma abordagem mais imparcial do congelamento de óvulos, com vistas a desenvolver um auxílio à decisão para mulheres que estão pensando em congelar óvulos.
A ferramenta on-line funciona fornecendo primeiro os fatos sobre o congelamento de óvulos – como funciona, o que sabemos sobre os resultados e riscos, como isso pode afetar a vida das mulheres durante o processo e depois.
Os tratamentos hormonais que estimulam os folículos ovarianos para coleta dos óvulos podem causar alterações de humor, inchaço abdominal e dores de cabeça, por exemplo. E eles vêm com um pequeno risco da síndrome de hiperestimulação ovariana, uma complicação potencialmente grave que pode causar distensão abdominal, dificuldade para respirar e, raramente, coágulos sanguíneos nos pulmões e pernas.
Em seguida, a ferramenta on-line pede às usuárias que atribuam um nível de importância aos possíveis benefícios e desvantagens do procedimento. Um benefício, por exemplo, é se sentir preparada para o futuro. E uma desvantagem é que o congelamento de óvulos não garante um bebê.
Essas respostas serão usadas para gerar uma pontuação geral que formará uma escala para responder a seguinte pergunta: a pessoa tem ou não a indicação de fazer o congelamento de óvulos? As usuárias também receberão orientações sobre onde encontrar mais informações sobre o tratamento.
“A ferramenta está atualmente sendo testada por um grupo de voluntárias da pesquisa e ainda não está amplamente disponível. Mas espero que represente um movimento em direção a mais transparência e abertura sobre os benefícios reais do congelamento de óvulos. Esta é uma tecnologia notável que pode ajudar as mulheres a formarem suas famílias no futuro, mas pode não ser a melhor opção para todas as mulheres indiscriminadamente”, defende a diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.