Mulheres com diagnóstico de câncer de mama submetidas aos procedimentos para preservação da fertilidade não apresentam risco aumentado de recorrência da doença. A informação vem de um estudo do Karolinska Institutet, na Suécia, que acompanhou as participantes por cinco anos.
Os resultados, publicados na revista JAMA Oncology, podem oferecer segurança e esperança para mulheres que desejam preservar sua fertilidade antes de se submeterem aos tratamentos de câncer.
Segundo os pesquisadores, quase uma em cada dez mulheres afetadas pelo câncer de mama está em idade fértil e corre o risco de se tornar infértil devido ao tratamento quimioterápico.
Com a esperança de poder ter filhos, após o término do tratamento oncológico, muitas mulheres optam por se submeter aos procedimentos de preservação da fertilidade com ou sem estimulação hormonal. Esses métodos incluem o congelamento de óvulos, o congelamento de embriões, o congelamento de tecido ovariano e a transposição dos ovários.
Mas não é incomum também que mulheres com câncer de mama ou seus médicos desistam dos procedimentos de preservação da fertilidade por medo de que esses procedimentos possam aumentar o risco de recorrência do câncer ou até mesmo causem a morte da paciente. Em alguns casos, as mulheres também são aconselhadas a esperar 5-10 anos antes de tentar engravidar e, com o aumento da idade, a fertilidade diminui.
São muitos os estudos que apontam que pacientes oncológicos podem não estar cientes da potencial diminuição da fertilidade após os tratamentos contra o câncer, bem como das opções para preservar a capacidade futura de ter filhos. “Algumas estimativas sugerem que apenas metade das pessoas com câncer tem uma orientação apropriada sobre a preservação da fertilidade”, afirma a especialista em Reprodução Humana, Ana Elisabete Dutra, diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Portanto, é necessário ampliar o conhecimento sobre a segurança dos procedimentos para preservação da fertilidade, no momento do diagnóstico de câncer de mama.
Como o tratamento oncológico afeta a fertilidade?
“Tanto o câncer quanto os tratamentos oncológicos podem reduzir a fertilidade. Quimioterapia, radioterapia e cirurgia dos ovários ou testículos podem reduzir permanentemente o número de óvulos e de espermatozoides, o que pode levar a dificuldades de concepção no futuro”, afirma a especialista em Reprodução Humana.
O estoque de óvulos é estabelecido antes do nascimento e, até o momento, não há evidências de que eles possam ser repostos. A quimioterapia pode prejudicar óvulos e espermatozoides, reduzindo o número de gametas. A radioterapia pode levar à perda parcial ou total de função do tecido ovariano e testicular.
Muitas vezes, com altas doses de quimioterapia ou radioterapia, todos os óvulos, espermatozoides e órgãos reprodutivos podem ser afetados. A cirurgia direta nos órgãos reprodutivos também pode levar à redução da fertilidade. “Frequentemente, não se sabe qual será o efeito do tratamento do câncer na fertilidade, sendo que ele pode ser diferente em cada indivíduo”, observa a médica.
Leva tempo para planejar e realizar a preservação da fertilidade (por exemplo, o estímulo ovariano para congelamento pode levar até 14 dias). Portanto, a agilidade é importante para evitar atrasos no tratamento do câncer. “Mas a preservação da fertilidade pode ser a melhor chance de um paciente oncológico ter filhos biológicos no futuro”, destaca Ana Elisabete Dutra.
Entenda o estudo sueco
No estudo sueco, os pesquisadores investigaram se os procedimentos para preservação da fertilidade em conexão com o diagnóstico de câncer de mama poderiam acarretar um risco maior de recorrência da doença.
O estudo acompanhou 1.275 mulheres em idade reprodutiva que foram tratadas para câncer de mama entre 1994-2017 na Suécia. Destas, 425 foram submetidas aos procedimentos de preservação da fertilidade com ou sem estimulação hormonal. O grupo de controle de 850 mulheres foi tratado para câncer de mama, mas não foi submetido aos procedimentos de preservação da fertilidade.
A proporção de mulheres sem recidiva ao longo dos cinco anos de acompanhamento dos pesquisadores foi de 89% entre as submetidas à estimulação hormonal dos ovários, 83% entre as mulheres que fizeram congelamento de tecido ovariano e 82% entre as mulheres que não realizaram procedimentos para preservação da fertilidade.
Cinco anos após o tratamento para câncer de mama, a taxa de sobrevivência foi de 96% no grupo submetido à estimulação hormonal para congelar óvulos ou embriões, 93% no grupo submetido aos procedimentos de preservação da fertilidade que não receberam estimulação hormonal e 90% no grupo que não realizou procedimentos de preservação da fertilidade.
Ou seja, não foi observado aumento do risco de recidiva ou mortalidade quando os procedimentos de preservação da fertilidade foram realizados, em comparação com as mulheres que não foram submetidas aos procedimentos de preservação da fertilidade.