Mulheres com adenomiose – uma doença crônica que pode causar dor pélvica e sangramento menstrual intenso – possuem maior risco de infertilidade, bem como de problemas na gravidez e durante o parto. É o que aponta uma pesquisa apresentada na reunião anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), evento que aconteceu este ano em Copenhague, na Dinamarca.
O primeiro estudo deste tipo, baseado em dados colhidos com mais de nove milhões de mulheres, mostram que as futuras mães com adenomiose apresentaram taxas mais elevadas de complicações.
O maior risco foi de parto cesáreo – este foi 20 vezes maior para mulheres com adenomiose do que para aquelas sem a doença. A probabilidade de remoção cirúrgica do útero também aumentava muito
Durante a apresentação do tema na conferência, os autores sugeriram que é necessário um maior monitoramento das mulheres com adenomiose em todo o mundo. Isto pode ajudar a prevenir ou reduzir o risco de complicações graves ou mesmo de morte para elas e para os seus bebês.
Segundos os pesquisadores, as mulheres com adenomiose também têm maior probabilidade de sofrer de infertilidade, parto prematuro e outras condições ginecológicas, como a endometriose.
O estudo fornece uma análise aprofundada dos efeitos da condição na gravidez, que são potencialmente devidos a muitos fatores, como a inflamação crônica. As descobertas ajudarão a orientar como os médicos monitoram e cuidam das pacientes.
Adenomiose: entenda a condição
A adenomiose afeta cerca de uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva. Ocorre quando o tecido endometrial e as glândulas que normalmente revestem a camada interna do útero são encontrados na sua parede muscular.
“Os sintomas podem incluir cólicas fortes, sangramento intenso e dor durante a relação sexual. No entanto, algumas mulheres não apresentam sinais físicos, o que torna a condição difícil de diagnosticar. A adenomiose pode ocorrer junto com a endometriose, mas também podem ocorrer isoladamente”, explica a especialista em Reprodução Humana, Ana Elisabete Dutra, diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Estudos já demonstraram que pacientes com adenomiose têm maior probabilidade de apresentar problemas obstétricos e ginecológicos, mas as orientações sobre como lidar com essas questões são limitadas.
Entenda os dados do novo estudo
A adenomiose pode interferir na função do útero e isso pode afetar a evolução da gravidez e no número de filhos que uma mulher tem. Por isso, os autores do estudo decidiram fornecer informações aprofundadas sobre os resultados maternos, gestacionais e neonatais em mulheres com adenomiose.
Eles usaram registros de 2004 a 2014 do banco de dados do Nationwide Inpatient Sample (NIS). O NIS integra a maior coleção de dados de cuidados hospitalares de pacientes internados nos EUA.
O grupo de estudo foi baseado em 9.094.321 mulheres sem adenomiose que estavam grávidas e 2.467 futuras mães com adenomiose.
Os resultados reprodutivos para mulheres com adenomiose e aquelas sem a doença foram comparados. Eles revelaram que pacientes com adenomiose eram mais propensas a serem de idade mais avançada, obesas, com hipertensão crônica, doenças da tireoide, diabetes pré-gestacional e terem feito cesariana e fertilização in vitro antes.
Em comparação com mulheres sem adenomiose, estas pacientes tinham um risco 5,86 vezes maior de placenta prévia. Elas também tinham 1,69 vezes mais probabilidade de desenvolver pré-eclâmpsia, uma condição exclusiva da gravidez associada à pressão alta e a um alto nível de proteína na urina, e 1,5 vezes mais probabilidade de desenvolver hipertensão.
O risco relativo de complicações obstétricas foi 21,63 vezes maior para cesariana, 6,39 para histerectomia, 2,37 para complicações por feridas, 2,25 para transfusões de sangue, 2,17 para descolamento de placenta, 1,97 para hemorragia pós-parto e 1,82 para infecção materna.
O estudo não investigou por que esses riscos na gravidez aumentaram. Mas pode haver múltiplas causas, como alterações inflamatórias, alteração do fluxo sanguíneo placentário, idade avançada, aumento das taxas de utilização de tecnologia de reprodução assistida e tumores benignos causados pela adenomiose.
A taxa mais elevada de cesarianas pode ser devida ao risco aumentado de complicações na gravidez, como pré-eclâmpsia e placenta prévia.
“Estas descobertas podem ajudar no dia a dia do consultório médico, fazendo com que as mulheres grávidas com adenomiose recebam a monitorização e os cuidados adicionais de que necessitam. Mais pesquisas são necessárias sobre esta condição muito comum, mas muitas vezes debilitante, que pode se tornar um importante fator de infertilidade feminino”, defende Ala Elisabete Dutra.