Hoje, já sabemos que os problemas de infertilidade masculinos respondem por aproximadamente metade dos casos clínicos de infertilidade.
“A infertilidade masculina é uma preocupação crescente de saúde pública, uma vez que os especialistas observaram um declínio de 50% na contagem de espermatozoides ao longo de várias décadas, deixando os pesquisadores lutando para entender o porquê. Seria a poluição, as toxinas potenciais nos alimentos e na água, o aumento da obesidade e das doenças crônicas ou o uso excessivo do celular?”, questiona o especialista em Reprodução Assistida, Luiz Bruno Cavalcanti, diretor da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Um novo estudo explorou o papel dos telefones celulares nesse contexto e descobriu que homens com idades entre 18 e 22 anos que disseram usar seus telefones mais de 20 vezes por dia tinham um risco 21% maior de ter uma baixa contagem geral de espermatozoides. Eles também apresentavam um risco 30% maior de baixa concentração de espermatozoides em um mililitro de sêmen. Não foram observados declínio na forma e na motilidade dos espermatozoides.
Como o estudo foi longo, durou 13 anos (2005-2018), os pesquisadores observaram que à medida em que a tecnologia telefônica melhorou, o impacto na contagem de espermatozoides começou a diminuir. Segundo os autores do estudo, os piores efeitos sob a saúde masculina foram observados com o uso de telefones com 2G e 3G mais antigos, em comparação com as versões 4G e 5G modernas.
O campo eletromagnético
Os telefones celulares tornaram-se parte indispensável de nossas vidas. No entanto, emitem campos eletromagnéticos de radiofrequência de baixo nível. Segundo dados do estudo, se os telefones celulares emitirem potência máxima, o tecido circundante ao aparelho pode ser aquecido em até 0,5 graus Celsius ou cerca de 33 graus Fahrenheit.
Os smartphones estão constantemente enviando e recebendo sinais. E quando estão em uso, esse processo é mais intenso. Com o telefone celular moderno, esse sinal vai variar dependendo se você está falando ou enviando dados.
Os campos eletromagnéticos de radiofrequência são bastante reduzidos ao enviar mensagens de texto e aumentam ao baixar arquivos grandes, streaming de áudio ou vídeo, quando apenas uma ou duas barras são exibidas e quando estamos em um ônibus, carro ou trem em movimento rápido.
Baseada nessas informações, o recomendável é manter o telefone longe do corpo e da cabeça — usar o viva-voz ou fones de ouvido — e carregar o telefone em uma mochila, pasta ou bolsa.
Durante a realização do estudo, os homens podiam escolher se carregavam o celular no bolso da calça, no bolso da camisa, na cintura ou em outro lugar, mas 85% deles colocavam o celular no bolso da calça quando ele não estava em uso.
Os resultados mostraram que os homens que usavam seus telefones de uma a cinco vezes por dia ou menos de uma vez por semana tinham contagens e concentração de espermatozoides maiores. “À medida em que o uso do telefone celular aumentou, a contagem de espermatozoides caiu, com os níveis mais baixos entre os homens que usavam o telefone 20 ou mais vezes por dia”, diz o diretor da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Os pesquisadores também avaliaram o impacto dos telefones celulares em diferentes períodos do estudo. A maior associação entre baixa contagem e concentração de espermatozoides e uso do telefone ocorreu entre 2005 e 2007. À medida que as empresas passaram do 2G para o 5G, a associação enfraqueceu.
O efeito sobre a fertilidade masculina
“Já me perguntaram muitas vezes se existe alguma ligação entre os celulares e a infertilidade masculina. Antes, não contávamos com muitos trabalhos publicados com uma palavra final sobre o tema. No entanto, este novo estudo é um avanço no debate porque é um grande estudo epidemiológico feito com seres humanos. Mas devemos ser cautelosos quanto à sua interpretação, pois ele apenas mostra uma associação entre o uso do celular e a qualidade do sêmen”, afirma o especialista em Reprodução Assistida.
Os homens que pretendem engravidar suas parceiras ou que desejam melhorar a saúde do reprodutiva como um todo devem fazer exercícios (mas não sobreaquecer a região da virilha), seguir uma dieta equilibrada, manter um peso saudável, evitar fumar, limitar o consumo de álcool e procurar ajuda se tiverem problemas para engravidar.