O aumento da idade paterna reduz as chances de nascimentos bem-sucedidos ou nascidos vivos, após os tratamentos que empregam as tecnologias de reprodução assistida (ART), aponta um estudo retrospectivo.
Após o ajuste para a idade materna, a probabilidade de um nascimento bem-sucedido por meio de fertilização in vitro (FIV) ou de injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI) diminuiu com a idade paterna acima de 50 anos versus uma idade menor que 35 anos, apontou o estudo, feito pelo Centro de Saúde Reprodutiva e Genética de Londres.
Os autores defendem que os resultados vêm se somando a uma série de evidências recentes sobre saúde pública que vêm ganhando corpo: homens não devem atrasar a paternidade indefinidamente.
“A notícia boa que emerge do estudo para os homens, com mais idade, é que ser pai, acima de 50 anos, não foi um preditor independente de aborto espontâneo”, afirma o especialista em Reprodução Assistida, Luiz Bruno Cavalcanti, diretor da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Idade e fertilidade
Já sabemos que o aumento da idade nas mulheres está associado a um menor sucesso nos tratamentos de reprodução assistida, especialmente na fertilização in vitro (FIV). No entanto, contávamos com menos evidências sobre o impacto que o aumento da idade paterna tinha nos resultados dos tratamentos.
“A questão da idade paterna tornou-se cada vez mais relevante, pois a postergação da parentalidade também está se tornando mais comum entre os homens. E o aumento da idade está associado à deterioração da qualidade do sêmen”, destaca o diretor da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Para chegar a essa conclusão, o estudo incluiu dados de todos os casais submetidos a fertilização in vitro ou ICSI com transferência de embriões frescos, entre dezembro de 2009 a agosto de 2018, numa determinada instituição de saúde em Londres.
O desfecho primário do estudo foi a taxa de nascidos vivos, enquanto os desfechos secundários incluíram a taxa de gravidez clínica e a taxa de aborto espontâneo.
Os parceiros do sexo masculino foram agrupados por faixas etárias de ≤35, 36-40, 41-45, 46-50 e ≥51 anos, enquanto as mulheres foram agrupadas por faixas etárias de ≤35, 36-37, 38-39 e ≥40 anos. A idade ≤35 foi o grupo de referência para comparações.
Durante o período do estudo, houve 4.833 ciclos empregando as técnicas de reprodução assistida, envolvendo 4.271 homens (133 com mais de 50 anos) elegíveis para análise. Desses ciclos, 40,8% resultaram em nascidos vivos (40,4% dos ciclos de FIV clássica e 41,3% dos ciclos de ICSI).
A equipe descobriu que as taxas de nascidos vivos diminuíram com o aumento da idade paterna, de 48,9% para homens ≤35 para 29,5% para homens ≥51, bem como o aumento da idade materna, de 50,3% para mulheres ≤35 para 20,8% para mulheres ≥40.
A taxa de gravidez clínica também diminuiu com o aumento da idade paterna (de 49,8% para homens ≤35 para 30,5% para homens ≥51) e da idade materna (de 51,9% para mulheres ≤35 para 22,3% para aquelas ≥40).
As chances de aborto espontâneo aumentaram significativamente com a idade materna de 38-39 anos (OR 1,542, IC 95% 1,197-1,986) e ≥40 anos (OR 1,529, IC 95% 1,169-2,001).
Independentemente da causa da infertilidade, o aumento da idade masculina está associado a uma redução de nascidos vivos e menores taxas de gravidez, mas não afeta a taxa de abortamento espontâneo.
“Os estudos recentes sobre idade masculina e postergação da paternidade têm mostrado que a contagem de espermatozoides pode diminuir e os danos ao DNA dos espermatozoides podem aumentar com a passagem do tempo. As evidências publicadas mostram que os homens também são regulados por um relógio biológico, ou seja, também existe um declínio na fertilidade masculina natural”, afirma Luiz Bruno Cavalcanti.