O que 4 milhões de mulheres têm em comum
Em todos os EUA, estima-se que 4,1 milhões de mulheres – com idades entre o final da adolescência e aquelas na faixa dos 40 anos – tenham endometriose. E para a maioria desses 4,1 milhões de mulheres, as suas experiências com a doença compartilham traços comuns de sentimentos de negligência enquanto convivem com dores intensas.
De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, 15% das mulheres em idade reprodutiva (13 a 45 anos) têm a doença. Antigamente, considerava-se que a maior frequência de endometriose ocorria após os 30 anos. Mas, com a evolução dos exames de imagem, observa-se a presença da doença entre mulheres mais jovens, inclusive adolescentes. Em 5% dos casos, o problema pode ocorrer ou persistir após a menopausa.
“A endometriose é uma afecção ginecológica caracterizada pela presença de tecido endometrial que é normalmente encontrado no revestimento interno do útero (endométrio) implantado em outro lugar. Ele pode surgir nos ovários, nas tubas uterinas e até no revestimento dos pulmões (pleura) e do coração (pericárdio). Os especialistas ainda não sabem o que causa isso. Mas se o tecido se implanta na cavidade pélvica (que contém a bexiga, o cólon e os órgãos reprodutivos internos) pode causar fortes dores e infertilidade”, afirma a especialista em Reprodução Humana, Ana Elisabete Dutra, diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Como isso afeta a fertilidade?
Quando o tecido endometrial se implanta na cavidade pélvica, causa cicatrizes e aderências nas tubas uterinas. E quanto pior a distorção da anatomia, mais difícil é a passagem de óvulos e espermatozoides. A endometriose tem quatro estágios – sendo o quarto o mais grave.
“Mesmo no primeiro estágio, a endometriose pode levar à infertilidade. Essa condição causa aderências pélvicas que prejudicam o transporte dos óvulos e dos espermatozoides, mas os implantes de tecido endometrial também se tornam um alvo do sistema imunológico da mulher, gerando uma inflamação no organismo”, diz Ana Elisabete Dutra.
Mesmo para as mulheres que estão nos estágios um, dois e três da doença, seus corpos ficam muito ocupados “lutando contra essa doença”. E quando o corpo e o sistema imunológico das mulheres estão esgotados, é difícil engravidar. Mas uma vez diagnosticada e conduzida de forma adequada, muitas mulheres podem até engravidar naturalmente.
Como se a infertilidade não fosse difícil o suficiente…
A endometriose pode ser uma lesão muito pequena para ser detectada em exames, como ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas e ultrassonografias. E com sua série de possíveis sintomas – dor pélvica intensa, especialmente durante a relação sexual e os ciclos menstruais; sintomas urinários e intestinais; fadiga e depressão – as mulheres que procuram ajuda muitas vezes têm dificuldade em localizar o ponto de origem da dor pélvica com precisão.
Por isso, é comum ouvir de mulheres com a doença:
- Que 58% relataram consultar três ou mais médicos antes de receber um diagnóstico;
- Que 63% relataram que pelo menos um médico lhes disse que não havia nada de errado;
- Que quase 60% relataram que não foram levadas a sério por um médico.
Além da dor física e emocional, as mulheres com endometriose muitas vezes têm que enfrentar a tensão mental de se sentirem negligenciadas e desacreditadas. Muitas não sabem onde encontrar ajuda. E isso pode rapidamente levar à interrupção de qualquer busca por respostas. Ninguém quer ouvir que o que sente e se vivencia no dia a dia não é nada.
“Tudo isso leva a atrasos no diagnóstico. Na verdade, para mulheres com endometriose, os atrasos no diagnóstico podem durar de dois a seis anos. Às vezes até uma década. Atrasos também incluem diagnósticos incorretos”, diz Ana Elisabete Dutra.
Por causa dos sintomas, 70% das mulheres com endometriose serão diagnosticadas e tratadas para a síndrome do intestino irritável quando, na verdade, têm endometriose. “O que é necessário é uma mudança na melhoria da rapidez com que a endometriose é diagnosticada. Não queremos esperar o momento do tratamento da infertilidade para tratar a endometriose”, defende a diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Tratamento da endometriose
O tratamento da endometriose associada à infertilidade precisa ser individualizado para cada mulher. Não há respostas fáceis, e as decisões de tratamento dependem de fatores como a gravidade da doença, sua localização na pelve, a idade da mulher, a duração da infertilidade e a presença de dor ou outros sintomas.
Tratamento para endometriose superficial
O tratamento medicamentoso pode aliviar a dor associada à doença em muitas mulheres. A remoção cirúrgica das lesões por laparoscopia também pode reduzir a dor, além de aumentar a chance de gravidez natural.
“Para o tratamento da infertilidade associada à endometriose superficial, o coito programado e/ou a inseminação intrauterina são frequentemente as alternativas terapêuticas indicadas e têm uma chance razoável de resultar em gravidez se outros fatores de infertilidade não estiverem presentes. Se a inseminação intrauterina não for bem-sucedida em cerca de três ciclos, a fertilização in vitro deve ser considerada”, explica a diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Tratamento para endometriose profunda
A endometriose profunda pode distorcer muito a anatomia pélvica, reduzindo consideravelmente as chances de sucesso de tratamentos mais simples para engravidar, como o coito programado e a inseminação intrauterina. Em tais casos, o tratamento geralmente indicado para engravidar é a fertilização in vitro.