Quando uma mulher congela seus óvulos não há garantias de que algum ou todos eles passarão por todas as etapas do funil da reprodução humana. Um óvulo congelado não significa necessariamente um filho. Essa verdade simples leva a uma pergunta complicada: quantos óvulos uma mulher deve congelar para ter uma chance boa de ter um bebê no futuro?
Em muitas clínicas, as mulheres costumam ser aconselhadas a congelar de 10 a 20, independentemente da idade ou situação. Mas isso nunca fez muito sentido, visto que os óvulos diminuem em qualidade e quantidade à medida que a mulher envelhece.
À medida que os estudos científicos sobre o tema vão surgindo, novas abordagens mais individualizadas vão sendo recomendadas. Para algumas mulheres, uma chance de 50% de ter um bebê pode valer a pena. Para outras, 50% não é suficiente.
O que é mais importante é que as mulheres tenham clareza sobre todo o processo de congelamento. Dez óvulos congelados para uma mulher de 30 anos é muito diferente de para uma mulher de 40 anos.
Probabilidade de nascido vivo
Um estudo estabeleceu padrões matemáticos para as probabilidades de sucesso gestacional, no futuro, com base na idade da mulher no momento do congelamento e no número de óvulos congelados.
A pesquisa usou dados de mulheres que passaram por fertilização in vitro (devido a problemas de fertilidade de seus parceiros masculinos) sem congelar óvulos e extrapola para mulheres que optaram por fazer fertilização in vitro com óvulos congelados. As mulheres no estudo eram jovens e saudáveis, na faixa dos 20 e 30 anos, semelhante à população submetida a congelamento de óvulos eletivo ou “social” hoje.
De acordo com o estudo, uma mulher de 35 anos com 10 óvulos tem 69% de chance de ter um bebê. Aos 37 anos, ela tem 50% de chance. E aos 39 anos, ela tem apenas 39% de chance. Uma calculadora baseada neste estudo pode ser encontrada aqui.
Funil da reprodução
“O uso de óvulos congelados é um processo de várias etapas, com muitos óvulos ou embriões perdidos ao longo do caminho. Primeiro, os óvulos precisam ser descongelados, depois são fertilizados. Em seguida, os embriões são deixados em uma placa para desenvolverem para o estágio de blastocistos. Uma proporção desses blastocistos pode ser anormal. Alguns dos embriões podem ter anormalidades genéticas. Em seguida, os embriões saudáveis são transferidos para o corpo da mulher. Alguns se prendem à cavidade uterina e outros não. Ainda assim há um risco de aborto espontâneo. Isso é o que chamamos de funil da reprodução humana”, explica a especialista em Reprodução Humana, Ana Elisabete Dutra, diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.
Os pesquisadores estimaram a porcentagem de óvulos e embriões que passam pelos vários procedimentos e exames envolvidos no funil da reprodução humana com base no estudo anterior. Cada uma das porcentagens representa uma fração dos óvulos ou embriões que sobreviveram à etapa anterior:
- Descongelamento: 85-95%;
- Fertilização: 70%;
- Blastocistos: 40-50%;
- Cromossomos normais: 57% para óvulos colhidos quando a mulher tinha 35 anos ou menos e 13% para 44 anos ou mais;
- Implantação: 70-75%;
- Nascido vivo: 60% (assumindo que o teste cromossômico e as outras etapas acima ocorram sem problemas).
“Como podemos perceber, o funil da reprodução humana nos aponta que em cada etapa do processo há perdas, portanto, quando falamos de congelamento de óvulos, a paciente precisa estar ciente de que quanto mais cedo (idade) ela congelar e quanto mais (quantidade) ela conseguir congelar, maiores serão as chances de um bebê no futuro”, afirma a diretora da Ciclos Medicina Reprodutiva.